Regras na prática: jogou do tee errado, não corrigiu e não foi desclassificada!

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* Agradecimentos aos árbitros Carlos Gasparian e Claudio Mesquita, pela consultoria

As Regras do Golfe foram feitas para ser claras. Especialmente a partir de janeiro de 2019, quando entrou em vigor uma grande simplificação e foram reduzidas de 34 para 24. Mas, ainda assim, o Guia Oficial às Regras do Golfe (novo nome do “Decisions on the Rules of Golf”) tem na sua versão em português, da qual me orgulho de ter uma cópia autografada pelo árbitro Carlos Gasparian, 529 páginas para explicar essas 24 regras.

Na verdade, a Regra do Golfe deveria ser uma só: jogar a bola como ela se encontra. Quase tudo o mais é para explicar o que fazer quando isso não é possível. Fica evidente que é difícil, até mesmo para árbitros experientes, saber tudo. Existem – aprendi em meu primeiro curso de Regras – dois tipos de árbitros: os que já erraram e os que ainda irão errar.

Ajuda sem penalidade – Não se impressione também com a firmeza dos árbitros do PGA Tour e similares. Eles são bons, muito bons. Mas quando são chamados e caminham para tomar uma decisão no local do incidente, outros árbitros já estão a cochichar em seu ouvido, via rádio, uma análise da situação e o que Regras podem ser aplicadas. Ajuda muito. Quando se está sozinho aqui no Brasil, recorre-se a um amigo árbitro por telefone.

Uma competição de golfe pode transcorrer tranquila em termos de arbitragem, apenas com questões banais de como Levantar e Recolocar uma Bola em Jogo (Regra 14) ou Alívios sem Penalidade (15 e 16), que, aliás, todos os scratches deveriam ter a obrigação de saber de cor, mas ás vezes as coisas se complicam, por culpa de lendas do golfe ou quando as Regras do Golfe não são tão claras assim.

E quando as Regras não forem tão claras? – No torneio da ABGS no Arujá, dia 10 de junho, aconteceram dois casos que merecem explicação e podem ajudar muita gente no futuro. O primeiro é de uma jogadora que saiu do tee errado e começou o buraco seguinte sem corrigir o erro. “Desclassificada!”, apressaram-se em julgar alguns. “A Regra é clara!”. Na verdade, não é tão clara e a jogadora não foi desclassificada. Entenda.

Acontece que a categoria dessa jogadora competia na modalidade “Escore Máximo” (Regra 21.2), também chamada, no caso específico, de “Double Par”, já que o máximo estabelecido pela Comissão era duas vezes o par do buraco (6, 8 ou 10 tacadas). Num jogo stroke play sem Escore Máximo a jogadora seria mesmo desclassificada. Afinal, por não ter começado o buraco – e consequentemente por não o ter terminado – não teria o que anotar no cartão. Poderia corrigir o erro antes de começar o buraco seguinte (ou deixar o green do 18) e pagar a penalidade geral (duas tacadas).

Mas no caso em questão, a jogadora que jogou do tee errado num par 5 e não corrigiu e erro, tinha o que anotar no cartão, um “10”. O legislador previu isso em detalhes na decisão 21.2c “Penalidades em Escore Máximo”. Lá diz que “todas as penalidades que se aplicam ao stroke play aplicam também ao Escore Máximo, exceto que um jogador que infringe qualquer destas quatro Regras não será desclassificado, porém recebe o escore máximo no buraco onde ocorreu a infração: … Não corrigir o erro de jogar de fora da área do tee ao iniciar um buraco …”.

Lenda Urbana – O outro caso que merece atenção por se tratar de mais uma das muitas “lendas urbanas” das Regras do Golfe, aconteceu no pelotão, com quatro jogadores scratch. A bola de um deles parou perto de uma árvore. O jogador fez alguns swings de prática até que no backswing de um deles o taco bateu em um galho e caíram algumas folhas – “duas” numa versão, “umas quatro” em outra. O marcador prontamente relatou que viu as folhas caírem e o jogador aceitou que estava sujeito a penalidade.

Mas, para sorte do pseudo infrator, não foi bem assim. A penalidade (geral, duas tacadas) seria por melhorar a “área de swing pretendido”, tipo quebrar ou dobrar um galho, coisa assim, um pouco mais drástica. Até 2018, o “Decisions” trazia esse caso bem claro, na Regra 13.2, explicando que só há penalidade se o jogador for claramente beneficiado pela mudança. E dava como exemplo o caso de um swing de prática derrubar algumas folhas, sem que isso melhorasse a sua área de swing pretendido. Tem até um vídeo a respeito.

… continua abaixo do vídeo …

vídeo feito com as antigas Regras, mas atual

Definições – Nas atuais Regras do Golfe e seu Guia nada mudou sobre o assunto, mas os legisladores não acharam mais necessário explicar caso a caso, limitando-se à Definição do que é “Melhorar: Alterar uma ou mais das condições que afetam a tacada ou outras condições físicas que afetam o jogo de forma que o jogador ganhe uma potencial vantagem (grifo nosso) para uma tacada”, o que não é o caso. Derrubar algumas folhas não dá vantagem a ninguém, embora isso possa ser discutido se o jogador derrubar as poucas ou únicas folhas de um galho em sua linha de swing pretendido. Mas essa é outra discussão.

Lendas urbanas do golfe existem muitas, mas a melhor que ouvi nesse dia é que o jogador recebe uma tacada de penalidade por cada folha derrubada. Se a infração for no outono, não vai caber no cartão.

Fonte: O Portal Brasileiro do Golf