Vitória de Matsuyama no Masters foi a melhor coisa que poderia acontecer ao golfe olímpico

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Não é segredo para ninguém que muitos dos melhores profissionais do mundo não estão nem aí para a presença do golfe nos Jogos Olímpicos. Em 2016, quando o esporte voltava à família olímpica após 112 anos de ausência, uma dúzia dos que deveriam dar o exemplo encontraram na epidemia de Zica a desculpa que procuravam para não ir ao Rio de Janeiro. Há um mês, bem no meio do The Players, Dustin Johnson, o número 1 do mundo, anunciou que não irá a Tóquio, no final de julho, simplesmente porque prefere “se focar no PGA Tour”. Com a pandemia de Covid-19 longe de ser controlada no mundo, é provável que muitos aproveitem a deixa para seguir DJ.

Por causa do individualismo de profissionais como DJ, que desdenham da sua galinha dos ovos de ouro e desprezam o impacto que o golfe olímpico, a despeito deles, tem e terá nas novas gerações, o golfe retornou aos Jogos Olímpicos, por duas edições, com resultado apertado na votação final do Comitê Olímpico Internacional (COI) e voltou a enfrentar resistência para confirmar sua permanência na família olímpica para 2024. Continuasse assim, não chegaria a 2028.

Prometeu – A lenda de Prometeu, que roubou o fogo de Zeus para entregá-lo aos mortais, serviu de inspiração para, a partir de 1928, criar-se a tradição da Chama Olímpica acesa durante os Jogos. Agora, espera-se, caberá agora a Hideki Matsuyama, primeiro japonês a vencer o Masters, roubar a chama dos negacionistas do golfe olímpico para devolvê-la ao mundo. Afinal, como ressaltou na transmissão deste domingo Sir Nick Faldo, do alto de seus três títulos do Masters, o impacto da conquista da jaqueta verde por Matsuyama será tremendo num país com 126 milhões de habitantes onde 9,3 milhões jogam golfe e vários outros milhões fazem com que mais de 10% da população acompanhe golfe quase que religiosamente.

Em Tóquio, que madrugou para ver a conquista de Matsuyama na manhã desta segunda-feira, já começou a campanha para que o novo campeão do Masters, vestindo a jaqueta verde, símbolo do campeão no Augusta National, seja o último do revezamento da Tocha Olímpica, aquele que vai acender a Pira Olímpica no novo Estádio Nacional do Japão, construído no lugar do antigo, que foi a sede oficial dos Jogos de Tóquio de 1964. Naquela oportunidade, o escolhido para acender a Pira Olímpica foi o velocista Yoshinori Sakai, nascido em 6 de agosto de 1945, o dia em que a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima, matando cerda de 140 mil pessoas, a grande maioria civis, uma das maiores tragédias da humanidade, que marcou o fim da II Guerra Mundial.

Propaganda Nazista – Curiosamente a tradição de um revezamento de atletas conduzindo a chama do templo de Hera, em Olímpia, na Grécia, sede dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, até o estádio olímpico da vez, foi criada como propaganda nazista para os Jogos de Berlim de 1936. Os Jogos inteiros tornaram-se um veículo de propaganda dos ideias e da estética nazista de Adolf Hitler, que só chegou ao poder em janeiro de 1933, dois anos depois de Berlim derrotar Barcelona na escolha da sede do Jogos de 1936.

Em meio à perseguição sistemática aos judeus, que culminaria no Holocausto, e seu delírio de “raça pura”, Hitler teve que assistir sob seu bigode ao mito racial nazista ruir ante a um pequeno grupo de atletas negros americanos, que conquistou a maioria das medalhas do atletismo, a modalidade mais importante dos Jogos, liderados por Jesse Owens, que levou quatro medalhas de ouro.

Importância – Naquele primeiro revezamento, em 1936, três mil atletas transportaram a Tocha Olímpica através da Europa até ser recebida em Berlim com o badalar de um imenso sino com a inscrição “Ich rufe die Jugend der Welt” (Eu chamo os jovens do mundo) slogan com que o regime nazista tentava se mostrar como pacífico e aberto para o mundo. Três anos depois, a Alemanha Nazista invadia a Polônia, em 1 de setembro de 1939, dando início à II Guerra.

Nem Hitler, nem os nazistas que a ele sobreviveram, conseguiram se apropriar do fogo divino. O revezamento da Tocha Olímpica só cresceu de importância a cada ano, passando a simbolizar a integração entre os povos, a igualdade entre gêneros e raças e um compromisso com a paz. Mesmo em meio à pandemia, o Japão não abriu mão da tradição. A chama olímpica, acesa ainda em 2020, na Grécia, começou sua viagem pelo Japão na quinta-feira, 25 de março de 2021, a partir da cidade de Fukushima, destruída no tsunami de 2011.

Chama eterna – Um total de 10 mil pessoas irão participar do revezamento, que vai durar 120 dias, passando pelas 47 prefeituras japonesas. A chegada será em 23 de julho, no Estádio Olímpico de Tóquio, dia da cerimônia de abertura dos Jogos. Para o COI, os “Jogos Olímpicos de Tóquio podem ser um farol de esperança para o mundo durante esses tempos conturbados, com a chama olímpica podendo se tornar a luz no fim do túnel em que o mundo se encontra atualmente”.

O barão Pierre de Coubertin, francês fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna, que teve sua primeira edição em 1894, em Paris, morreu um ano depois dos Jogos de 1936, a tempo de ver o primeiro revezamento da Tocha Olímpica, quando profetizou: “Que a Tocha Olímpica siga o seu curso através dos tempos para o bem da humanidade cada vez mais ardente, corajosa e pura”.

Fonte: O Portal Brasileiro do Golf